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Por Pablo Pires Ferreira

Um estudo desenvolvido no Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) da Fiocruz foi laureado com o prêmio de melhor trabalho científico no XVII Encontro Nacional e III Congresso Latino-Americano de Analistas de Alimentos, realizado entre os dias 3 e 7 de julho, em Cuiabá (MT).

“Nossa proposta foi a de demonstrar que muitas das substâncias de referência empregadas pela vigilância sanitária para monitorar a presença de agrotóxicos em produtos alimentícios podem ser utilizadas por um tempo superior ao prazo de validade determinado pelos fabricantes”, relata a engenheira química Lúcia Pinto Bastos, uma das pesquisadoras envolvidas no projeto. O fato representa não só um ganho econômico – visto que a importação desses materiais é extremamente dispendiosa e complexa em termos burocráticos – como também diminuiria os problemas relacionados ao seu descarte – considerado complicado, em termos logístico e ambiental.

 

Até aqui, o Brasil não produz nenhuma substância química de referência para agrotóxicos (conhecidas como SQRAs) e precisa recorrer à sua importação. “Trata-se de uma questão complicada, pois além de muito caras, por serem produtos químicos, sua compra torna-se difícil em termos administrativos”, conta Lúcia. O INCQS busca soluções, pois dilui as SQRAs que importa, multiplicando-as e oferecendo-as gratuitamente aos laboratórios públicos do país. No entanto, como normalmente os técnicos usam apenas pequenas quantidades em suas práticas diárias, os prazos de validade dos materiais vencem, o que gera, nas palavras da engenheira, “um lixo terrível”. “Por se tratarem de concentrados dos ingredientes ativos dos agrotóxicos, eles não podem simplesmente ser jogados fora, necessitando de tratamento especial que culmina com a sua queima”, explica a pesquisadora. Só que nem todos os laboratórios têm a estrutura para tal processo, e acabam armazenando os padrões vencidos indefinidamente.

Além dos problemas citados acima, a pesquisa premiada foi estimulada quando o Inmetro (seguindo os passos do que já acontece na Europa) admitiu reconhecer a extensão da validade das SQRAs, desde que houvesse um procedimento capaz de assegurar tal extensão. Esse método acabou sendo desenvolvido no INCQS, e, explicado de maneira simples, funciona da seguinte maneira: avalia-se uma SQRA com validade vencida comparativamente a outra, que esteja dentro do prazo; se a razão entre os resultados de ambas estiverem dentro de margens estatisticamente aceitas, a SQRA vencida ainda está apta para ser usada.

O trabalho premiado chama-se Estabilidade de substâncias químicas de referência de agrotóxicos, e foi desenvolvido pelo INCQS com colaboração do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep), da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Além de Lúcia, são coautores as químicas Maria Helena Cardoso e Débora da Silva Carneiro e o engenheiro químico Armi Wanderley da Nóbrega.

[Publicado no site da Agencia Fiocruz de Notícias: http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=4111&sid=9]

Outra premiação importante

Paralelamente, o grupo composto por Márcia Warken, Marcelo Luiz Lima Brandão, Aline Encarnação Souza (bolsista TEC-TEC), Ana Cristina Nogueira e Maria Tereza Destro (da USP) também foi premiado, recebendo o diploma de Honra ao Mérito, na área temática Microbiologia, pelo trabalho Pesquisa de fatores de virulência in vitro e perfil de suscetibilidade a antimicrobianos de isolados de cepas de referência de Cronobacter SSP.

Duas importantes conquistas que vêm se somar a outras várias que consolidam o INCQS como centro de referência na área de vigilância sanitária no País. E que servem de incentivo para os outros grupos e pesquisadores da Casa.