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Publicado em 25/03/2022.

Por Penélope Toledo (INCQS/Fiocruz)

Infectologista Dr. Julio Croda. Acima: intérprete de libras e diretor do INCQS/Fiocruz, Antonio Eugenio de Almeida

Especialista com presença constante nos veículos de imprensa para falar sobre a Covid-19, o infectologista Dr. Julio Croda abriu o ano letivo do Programa de Pós-Graduação em Vigilância Sanitária (PPGVS) do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz). Com o tema Vacinas, variantes e futuro da pandemia, a aula inaugural aconteceu em 11 de março.

Julio Henrique Rosa Croda é médico formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com residência médica em Infectologia e doutorado pela Universidade de São Paulo. Atua como pesquisador do Escritório Técnico - Fiocruz em Mato Grosso do Sul e assumiu, em novembro de 2021, a presidência da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT).

Confira as principais questões levantadas pelo infectologista em sua exposição:Sobre as vacinas

 

Sobre as vacinas

Julio Croda apresentou dados a respeito da capacidade de controle da transmissão do vírus por meio da vacinação em massa e a correlação entre a eficácia da vacina de acordo com as diferentes variantes.

Ele também explicou que para as variantes do vírus, há ligeira redução de anticorpos neutralizantes (produzidos pela resposta imunológica do hospedeiro mediante a vacinação), mas enfatizou que até o momento não surgiu nenhuma variante fora do escopo de proteção para as formas graves da doença, das vacinas disponibilizadas.

Indicou, ainda, uma considerável redução nos sintomas no caso de Covid longa (quando os sintomas da doença se prolongam após o tempo de contaminação) depois de recebida todas as doses da vacina.

 

Sobre as variantes

As principais variantes do vírus SARS-CoV-2 (vírus da Covid-19) são a Alpha, Beta, Gamma, Delta e a Ômicron, sendo que a Ômicron é muito mais transmissível que as demais em contatos domiciliares e com mais possibilidade de reinfecção. Este é o motivo, inclusive, pelo qual as crianças ficaram mais suscetíveis a ela, conforme esclareceu Julio Croda.

Outra variante que mereceu destaque na apresentação foi a BA.2, que pode apresentar possível escape de resposta imune.

 

Sobre o futuro da pandemia

Julio Croda mostrou dados acerca da resposta celular preservada para diferentes variantes, no caso das vacinas com introdução de parte do código genético do vírus (mRNA) com instrução para o corpo produzir a defesa, e dos adenovírus para diferentes variantes, no caso das vacinas com introjeção da família adenovírus, que induzem o organismo a criar defesa aos vírus.

Ele não descartou a demanda por uma quarta dose, principalmente para os idosos, mas ponderou que antes é preciso reduzir a disparidade de acesso às vacinas. Ademais, defendeu a necessidade de mais estudos que apontem o intervalo ideal entre as doses, adaptação para novas variantes, possibilidade de ministrar junto com a campanha de influenza e dados de efetividade.

“Há três cenários possíveis para futuro da pandemia”, declarou. E explicou: “um é mais pessimista, com ampla circulação do vírus, elevada taxa de mutação, surgimento de variantes com maior escape da resposta imune e elevada letalidade, o que nos exigirá atualizações nas vacinas e dose de reforço com maior frequência. Outro, otimista, aponta para a transição a uma doença endêmica semelhante a outras infecções por coronavírus humanos, cujo impacto é muito menor do que a influenza ou o SARS-CoV-2. O cenário mais realista, entretanto, é o intermediário, com a Covid-19 se tornando uma doença sazonal endêmica como a Influenza, com a aquisição de imunidade parcial pela população global. Neste, a vacinação ampla e terapias preventivas irão reduzir o risco para hospitalização e óbito”.

 

Mais sobre o palestrante

Além de médico infectologia, doutor, pesquisador da Fiocruz Mato Grosso do Sul e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), Julio Croda é professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e Yale School of Public Health; coordenador adjunto da área de Medicina II da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e especialista em C&T Produção e Inovação em Saúde Pública da Fiocruz Mato Grosso do Sul.

Teve passagem pelo Ministério da Saúde, como Diretor do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde (DEVIT/SVS/MS) na gestão do ministro Luiz Henrique Mandetta.

O pesquisador já havia se tornado um nome internacionalmente reconhecido por sua atuação no enfrentamento à tuberculose em 2018 e hoje é uma das grandes referências sobre a pandemia, sendo um dos especialistas mais consultados pelos meios de comunicação.