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 Por Penélope Toledo (INCQS/Fiocruz)

Fotos: Pedro Paulo Gonçalves (INCQS/ Fiocruz)

No Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, em 11 de fevereiro, mais do que exaltar a presença feminina no campo científico, precisamos falar sobre igualdade, inclusão e corporativismo. Este foi o tema do artigo Elas na Ciência, publicado por Izabela Gimenes, do Departamento de Farmacologia e Toxicologia do INCQS/Fiocruz (DFT), na Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022.

As informações utilizadas foram colhidas nos dados científicos gerados pelo movimento Parent in Science, nascido em 2016 para promover um ambiente científico mais igualitário, levando em consideração a intersecção com raça e outros aspectos que impactam na atividade científica.

Causas da desigualdade

Izabela discute as causas que geram a diferença do número de publicações entre homens e mulheres na ciência De acordo com dados baseados em evidências indicados no artigo, a maternidade influencia, pois a mãe-pesquisadora é levada a reduzir a sua produção científica para cuidar dos filhos e de demandas domésticas, enquanto o mesmo nem sempre ocorre com o pai-pesquisador.

A situação se agravou na pandemia da Covid-19, que trouxe a necessidade de conciliar as atividades com o trabalho remoto. Em 2020 foi publicada uma carta na Revista Science relatando que acadêmicas negras, indígenas e mães, principalmente solo, têm tido dificuldades para cumprir os prazos de submissão de artigos neste período.
De acordo com o artigo, um estudo recente revelou que os acadêmicos do gênero masculino, especialmente os sem filhos, são o grupo menos afetado.

“Um dos principais critérios avaliados pelas agências de fomento para conseguir financiamento a estudos e projetos é a produtividade e o número de publicações em periódicos. Mas segundo estudos do movimento Parent in Science, a produtividade fica afetada em pelo menos 2 a 5 anos após o nascimento do bebê e a idade média das mães pesquisadoras é de 33 anos. Eu me enxerguei dentro das estatísticas e sinto o desejo de contribuir para a mudança deste quadro. Uma das formas é apoiar os movimentos e as políticas públicas em torno do tema”, declarou a pesquisadora.

Políticas públicas de equidade

Para Izabela Gimenes, os dados deste estudo são um referencial teórico importante para orientar políticas públicas e campanhas de financiamento coletivo para auxiliar as mães na área, evitar evasão acadêmica e incentivar sua participação e produção, visando superar a desigualdade de gêneros.

Seu artigo menciona algumas iniciativas que contribuem para ampliar a presença feminina, como a inclusão do campo de Licença-Maternidade na plataforma Lattes para evitar competitividade injusta; o programa “Para Mulheres na Ciência”, que oferece bolsa-auxílio; o Prêmio Mulheres na Ciência Amélia Império Hamburger, aprovado pela Câmara dos Deputados em 2021; e programas que promovem o empreendedorismo feminino, com capacitações, mentorias, presença de mulheres nos negócios e em cargos de liderança.

A pesquisadora do INCQS reconhece os avanços, mas sente falta de mais ações, que insiram sobre o corporativismo masculino nas citações e escolhas de referenciais teóricos, disponibilizem creches e outras estruturas para as mães nos eventos científicos e equalizem a proporção de palestrantes e conferencistas entre os gêneros.

Mulheres na ciência: tema da redação do Enem 2021, documentário na Netflix e até bonecas Barbies

O tema da redação da reaplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021, realizada em 09 de janeiro de 2022, foi "Reconhecimento da contribuição das mulheres nas ciências da saúde no Brasil". Sobre a coincidência, Izabela Gimenes brinca:

“Eu acertei o tema! Publiquei o artigo na quinta-feira e a redação foi no domingo, estava super fresco. Quem leu o meu artigo se deu bem na redação, porque falei tudo lá” (risos).

Este assunto também está em evidência por conta do documentário ‘Elas na Ciência’, da provedora de entretenimento por streaming Netflix, que aborda assuntos que foram velados durante muitos anos na ciência, como desigualdade de gênero, assédio e inclusão. O conteúdo audiovisual, inclusive, foi o ponto de partida da pesquisadora do INCQS/Fiocruz para discutir o tema.

Até as futuras cientistas já têm bonecas para se inspirar: em homenagem a pesquisadoras que atuam no combate à Covid-19, a empresa Mattel lançou uma coleção de 6 bonecas Barbies, cada uma em referência a uma profissional. Do Brasil a representada foi a biomédica brasileira Jaqueline Góes de Jesus, que liderou a equipe que conseguiu fazer o sequenciamento genético do novo coronavírus apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso no Brasil.

Imagem de Divuklgação

“Apesar de sua grande contribuição científica, as mulheres ainda pertencem ao grupo de minoria nas posições de cargos de alta gestão e bolsas de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O Brasil possui algumas iniciativas bem recentes na ciência para reduzir a disparidade entre homens e mulheres, especialmente as negras. Sabemos que esse movimento ainda é tímido. Precisamos compor um ambiente acolhedor para as jovens pesquisadoras, como a Fiocruz tem feito. Muitas mulheres necessitam conciliar maternidade e carreira. A divulgação e o apoio ao desenvolvimento de políticas públicas em prol da igualdade de gênero baseada em dados científicos se fazem necessários, de forma a criarmos ambientes propícios e receptivos para a progressão na carreira científica da mulher e de jovens pesquisadoras.” (Izabela Gimenes)