pt Português en English es Español
 

Publicado em 03/07/2019.
Por Penélope Toledo (INCQS/Fiocruz)

Imagens de Divulgação

Um dos principais problemas da saúde pública é a resistência microbiana (RAM/AMR), isto é, a capacidade dos microrganismos que causam doenças (bactérias, fungos, vírus, vermes, protozoários etc) de resistirem aos efeitos da medicação. Empenhado em reverter este quadro, o INCQS/ Fiocruz desenvolve estudos na área, que foram apresentados na mesa redonda Estudos desenvolvidos no INCQS sobre resistência microbiana. O evento integrou a primeira edição do ciclo de palestras “Visa em Foco” de 2019, realizado no dia 18 de junho.,

Contaminantes emergentes e disseminação da resistência aos antimicrobianos:

De acordo com a curadora da Coleção de Arqueas de Referência em Vigilância Sanitária (CARVS) do INCQS, Maysa Mandetta Clementino, a resistência aos antimicrobianos entre as comunidades bacterianas é considerada um dos maiores riscos e desafios para a saúde pública no século XXI, oferecendo sérias consequências.

Atualmente, estima-se que 700 mil mortes sejam causadas anualmente por doenças que anteriormente eram tratáveis com antimicrobianos e que a ausência providências para conter o problema da resistência aos antimicrobianos poderá causar mais mortes que o câncer até 2050.

Maysa falou sobre a disseminação de bactérias e genes de resistência provocada pela poluição por agentes químicos e biológicos oriundos, principalmente de efluentes (resíduos provenientes das atividades humanas) domésticos e industriais, e pelo uso inadequado de antimicrobianos (contaminante emergente).

Abordou, ainda, que seus estudos englobam a abordagem de Saúde Única (One  Health  approach),  que  estabelece  a  necessidade  de  assegurar  o  tratamento  da  questão  sob  as  perspectivas  conjugadas  de  saúde  humana, animal e ambiental, segundo o  Plano  de  Ação  Global de Resistencia aos Antimicrobianos, da Organização Mundial de Saúde (OMS).

 

Resistência aos antimicrobianos: a importância do monitoramento de resíduos em alimentos e no ambiente:

Integrante do Setor de Resíduos do Departamento de Química (DQ) do INCQS, Bernardete Spisso explicou que os resíduos de antimicrobianos em alimentos de origem animal são provenientes do uso do medicamento veterinário para prevenir ou tratar doenças, ou ainda do uso de aditivo melhorador de desempenho (anteriormente chamado de “promotor de crescimento”) ou aditivo anticoccidiano (adicionados intencionalmente às rações, principalmente dos galináceos para prevenir a coccidiose).

Ela enfatizou que há restrições na lei quanto ao uso de antimicrobianos como aditivos na alimentação para os animais e quanto à sua presença em diversos alimentos, incluindo fórmulas infantis e alimentos de transição como sopinhas, mas que pelos dados das pesquisas realizadas, parece que nem sempre estão sendo respeitadas.

A contaminação pode ser direta, pela ingestão do alimento contaminado, ou indireta, pois como não são totalmente metabolizados pelo organismo, são expelidos para o meio ambiente e podem contaminar a água. Estudos efetuados no laboratório, com amostras ambientais de águas e esgotos indicam a presença de inúmeros antimicrobianos.

Dentre os motivos para o problema, a profissional do Setor de Resíduos apontou o uso equivocado de medicamentos, os programas inadequados de prevenção e controle de infecções, a má qualidade dos antimicrobianos, a fraca capacidade laboratorial, a vigilância e o monitoramento ineficientes e a insuficiência de regulamentação e fiscalização do uso dos medicamentos antimicrobianos. Destacou o Plano de Ação Global de Resistência aos Antimicrobianos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Plano de Ação Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos no Âmbito da Saúde Única, publicado em dezembro de 2018.

Tolerância microbiana aos desinfetantes:

Outro enfoque foi a tolerância microbiana aos saneantes (substâncias para higienização, desinfecção, desinfestação e no tratamento de água para consumo e recreação), apresentado pelas profissionais do Setor de Saneantes do Departamento de Microbiologia (DM) do INCQS, Bruna Sabagh e Maria Helena Simões Villas Bôas. Elas explicaram que bactérias podem sobreviver em objetos, ambientes e artigos médicos processados de forma inadequada, podendo causar infecções.

As soluções indicadas por elas foram o cumprimento da legislação sanitária específica, que estabelece o uso de produtos registrados e com eficácia comprovada.

Nesse setor do INCQS são realizados estudos sobre a análise molecular, genes de resistência, perfil de susceptibilidade a antimicrobianos e a desinfetantes hospitalares e fatores de virulência de cepas de bactérias envolvidas em surtos epidêmicos.